O dia que falei sobre ‘adultices’.

 

 

A idade chega pra todo mundo. Não digo daqueles que morrem aos 27, mas, ainda assim, a idade chega. Pensei um pouco sobre isso, sobre um amadurecimento de ideias e ideais que temos ao longo da vida. E, algumas pequeninas atitudes fazem com que você perceba que já está grandinho. Que já é, ou ‘praticamente é’, dono do seu nariz. Daí surgiu a lista: “Me sinto adulto quando…”

Me sinto adulto…

 

– Quando vejo crianças e penso: “bons tempos”

– Quando escolho minhas roupas

– Quando digo: “veja bem”

– Quando pago a conta do cartão de crédito

– Quando tenho alguma conta em meu nome

– Quando participo de reuniões

– Quando saio sem hora pra voltar

– Quando preparo meu almoço

– Quando como um Big Mac com batata grande

– Quando recebo ligação de telemarketing

– Quando tenho hora pra acordar

– Quando escolho o que almoçar

– Quando dou conselhos

– Quando digo que “tenho coisas pra resolver”

– Quando presenteio alguém no dia das crianças

– Quando atravesso a rua sem dar as mãos pra um responsável

– Quando eu sou o responsável por mim mesmo

– Quando falo: “na minha época”

– Quando saio as 23h de casa pra ir na balada

– Quando arrumo a cama

– Quando assisto, ou leio, o jornal pra saber as notícias do mundo

– Quando digo: “preciso ver na minha agenda”

– Quando não arrumo a cama

– Quando mostro minha carteira de habilitação

– Quando assisto filme censurado no cinema

– Quando mando e-mail dizendo: “Segue..Att“

 

E viva a adultice!

 

O dia que Rita (re)aprendeu a amar.

Quanto mais Rita andava pela sua casa, mais ela ficava desesperada.
Não era pra menos. Seu irmão havia sido raptado. E ela não tinha visto como aconteceu. Afinal, estava fazendo macarrão na cozinha.
Chorou.
Chorou mais um pouco.
Horas se passaram, e nada do irmão. Nem uma notícia sequer. Um tweet, um SMS ou uma ligação a cobrar. Pela primeira vez em 20 anos, ela estava realmente preocupada com seu irmão mais novo.
Chorou de novo. E lembrou do tempo em que tudo se resolvia ligando para os pais, ou simplesmente indo ao quarto ao lado para falar com eles.
“O que faço? Meu Deus, o que eu faço agora?” – pensou.
Chorou.
Estava sentindo algo que nunca sentira antes. Algo que não tinha nome.
Pegou o telefone, ligou para a polícia. E só dava ocupado. “Estranho” , pensou.
Ligou para bombeiros, vizinhos, primos distantes e tias que nunca conversava, a não ser em festas de fim de ano.
Ninguém atendeu. Ninguém.
O desespero aumentou. Ela nunca havia se sentido tão sozinha, abandonada e preocupada.
Pegou uma folha, escreveu um recado para o irmão, deixou na mesinha do telefone (aquela em frente ao quarto deles) e saiu. Precisava procurá-lo pelas redondezas.
Ruas desertas. Mas em plena segunda-feira?
Correu como nunca correra antes, mas cansou-se rapidamente.
Até que viu um orelhão, logo mais adiante. Ficou observando.
O orelhão tocou. Ela olhou pros lados e não viu ninguém. Foi até lá e o atendeu.
Era seu irmão.
“Levanta, Rita!”
Ela despertou. Abriu os olhos e viu seu irmão parado ao lado da cama dela.
Rita sorriu.
Abraçou seu irmão como nunca tinha feito antes. Mas abraçou mesmo, esmagando o coitado.
Respirou aliviada. Sorriu novamente.
“Eu te amo, seu moleque” -falou
“Ah, cala a boca. Agora levanta logo que o pai e a mãe tão esperando pra tomar café.”

De repente, a segunda-feira tinha se tornado muito mais feliz para ela.
A segunda, a terça, a quarta, quinta, sexta, sábados, domingo e feriados.
De repente sua família era novamente a coisa mais importante que ela tinha.

Mas agora Rita sabia disso.

O dia que o telemarketing da Kolishop conheceu minha tia.

Dr. Rey abismado com a minha tia.

Minha tia Arlinda recebia muitas ligações de telemarketing. Talvez porque ela sempre aceitava os produtos ou serviços oferecidos. Era uma viciada em vendas por telefone.

Até que um dia, em que ela estava emputecida com algo que meus primos fizeram, ela recebeu uma ligação da Kolishop. E o diálgo não foi lá muito agradável.

– Boa tarde, a senhora Arlinda Campos está?

– É ela. E é senhorita, por favor.

– Desculpe, Senhorita.

– Quem ta falando?

– Sou a Roberta Torres, representante comercial da Kolishop Brasil. E eu tenho uma grande novidade pra você.

– Ah é? E quem disse que estou interessada?

– Senhorita, garanto que você não vai estar se arrependendo. Apenas ouça o que tenho a apresentar.

– Hum…

– Você recebeu nossa mala direta, a respeito da Bermuda Slim essa semana…

– Hum…

– E gostaria de estar informando que a sua está aqui. Guardadinha esperando pelo seu pedido. Vale lembrar que ela foi desenvolvida pelo famosíssimo Dr. Rey. Tudo para o melhor conforto da mulher moderna.

– Eu sei quem é esse rapaz. E não gosto dele.

– Mas ele é o maior cirurgião plástico do planeta. A senhorita há de concordar comigo.

– É. Pode ser. Ele é fresco. Fica se achando o gringo, mas nasceu na nossa terra. Porque o nome é Rey? Ele não é rei em lugar nenhum. É de Reynaldo?

– Olha, Senhorita Arlinda, não posso estar afirmando essa informação. Mas posso garantir: o resultado positivo é na hora! Sem cirurgia e sem sofrimento.

– Que resultado?

– Da Bermuda Slim. Ela vai estar modelando seu corpo de maneira rápida. A tecnologia da Bermuda Slim vai estar ajudando a afinar a cintura, a modelar o abdômen, definir suas coxas, diminuir os culotes e reduzir seu manequim. Basta vesti-la para perder pneuzinhos e se sentir bem consigo mesma.

– Tá me chamando de gorda?

– Não, Senhora, eu só…

– Senhorita.

– SENHORITA, eu só estava lhe apresentando o produto.

– Vem cá, você usaria essa tal Bermuda Eslim?

– SLIM, Senhora.

– Senhorita. SE-NHO-RI-TA.

– Ok, senhorita. Este que tenho em mãos não é meu número e…

– Então quer dizer que além de me chamar de velha e gorda, ainda vem se gabar porque é magrinha? E porque minha Bermuda Slim está com você aí?

– Não senhora…senhorita. Só estou dizendo que…

– Olha aqui, senhora Kolishop. Você me liga oferecendo uma coisa que eu não quero. Me insultando, se gabando e quer que eu compre seu maldito produto milagroso?

– Veja bem, Senhorita Arlinda. O produto não é meu. É feito pelo Dr. Rey e em breve será seu.

– Além de tudo, é costureiro também?

– O quê?

– O Reynaldo.

– É Robert Rey, senhorita. Mas, faremos o seguinte. Eu mando uma Bermuda Slim para você. Aí você pode estar fazendo os testes. Veja se cai bem, se é benéfico. Fica como cortesia da Kolishop. O que acha?

– E o que eu ganho com isso?

– Seu bem-estar de volta, pelo menos.

– Meu bem só chega a noite do trabalho. Ele não está de volta ainda. São 4 da tarde. Mas, olha, acho que você pode pegar essa bermuda e enfiar lá naquele lugar.

– Senhorita, não falte com o respeito.

– Você me chama de gorda, psicótica, diz que sou maluca por não acreditar no milagre do Reynaldo e ainda fala do meu marido… e eu que falto com respeito?! Quer saber, não vou querer essa porcaria.

– Mas, Senhorita Arlinda…

– Tenha um bom dia. Senhora Kolishop.

3 dias depois a minha tia Arlinda ganhou a Bermuda Slim do seu ‘bem.’

O dia que perdi meu Buzz.

Eu tinha uns 8 anos. Estava na fase de ter bonecos e mais bonecos. Adorava ver filmes e desenhos. Meu boneco favorito era um ninja verde. Não me recordo bem se ele era de algum desenho. Mas sei que ele era verde, era ninja e era meu preferido dentre tantos outros.

Lembro que tinha bonecos de futebol, o famoso Gulliver. Tinha times de botão, tinha Comandos em Ação e muitos outros. Mas foi em uma bela tarde que eu percebi que minha vida mudaria.

Meus primos vieram me visitar, e trouxeram o VHS de uma animação chamada Toy Story. Disseram que era o melhor filme que já haviam visto em sua curta vida, e que eu ia gostar muito. Ok, né. Nunca recusei ver filmes bons. Minha mãe ligou a TV, o vídeo e colocou o filme para nós.

Após a sessão de cinema em casa, meu pedido era um só: EU QUERO UM BONECO DO BUZZ LIGHTYEAR MÃE! PAI!

E não era pra menos. Ele era o melhor das galáxias, era do comando estelar, voava/caía com estilo e tinha lasers!

Tive de esperar uns meses até meu aniversário, mas ganhei o boneco do Buzz. E, injustiça de minha parte, deixei o ninja verde de lado. Coitado.

O Buzz virou meu amigão. Pra onde quer que eu fosse, levava o Buzz comigo. Ficava triste por não poder levar para a escola de segunda a quinta. Apesar de ter contrabandeado meu boneco, e tê-lo levado nos dias que não podia.

Até que, em um dia maldito, fui passear com a minha mãe e o Buzz. Ele ficou na minha mão o tempo inteiro. Porém, quando estávamos indo embora, tive a ideia de colocá-lo na sacola que minha mãe carregava. Para ele descansar um pouco, sabe.

O problema é que ele não foi pra dentro da sacola, ficou na beiradinha. E quando fomos atravessar a rua, aconteceu o pior. O Buzz caiu da sacola, no meio da avenida. Eu gritava para minha mãe me deixar voltar pra buscar ele. Em vão. O semáforo abriu, e eu, em um último suspiro, vi meu querido Buzz ser atropelado.

O ódio tomou conta do meu coração, e logo em seguida, mais um carro passou por cima dos estilhaços do boneco-amigo.

Eu chorei. Gritei. Xinguei o motorista de idiota, babaca e outros xingamentos pesados. A tristeza me consumia.

Com o tempo, superei o fato. Mas não completamente. E há pouco tempo fiz o que devia ter feito há anos: comprei outro Buzz.

A vida me ensinou que por pior que seja o que aconteça, um dia, você vai superar.

Mas, infelizmente, até hoje eu me pergunto: que fim levou meu ninja verde?

Ilustração: Taisa Lira

O dia que me decepcionei com o Google.

Tá. Pode parecer difícil isso acontecer, mas aconteceu.

Descobri que o Google não é invencível. Ele não é nenhum tipo de Deus.

Já procurei algo, e não achei. E olha só, sobrevivi!

E caí na real: essas coisas na lista, eu nunca vou achar.

Ah ):

15 Coisas que você nunca vai encontrar no Google.

1 – Sua lição de matemática. Prontinha.

2 – A fórmula do guaraná Antarctica.

3- O endereço do Papai Noel.

4 – O próximo casamento da Gretchen. Antes dela.

5 – Como construir o seu próprio iPad. E que funcione, por favor.

6 – Uma lista de coisas que você nunca encontrou no Google.

7 – Fabricação caseira de um soro para o nascimento de zumbis.

8 – Os números do próximo sorteio da loteria. E aí, Google?

9 – Uma namorada (o).

10 – AudioBooks sobre os próprios audiobooks.

11 – Algo que você perdeu. Por exemplo, um guarda-chuva.

12 – O Padre dos balões. (Lembra dele?)

13 – O que o Internet Explorer tem de melhor que os outros navegadores.

14 – Entrevista do Rubinho dizendo como foi emocionante ter o primeiro título Mundial.

15 – Bill Gates anunciando, enfim, a compra da internet.

PS:. Tem uma coisa que você sempre acha, não importa o que você procura. E principalmente nas imagens: putaria.